Espanha anula reforma trabalhista para resgatar direitos. Proposta foi usada como referência no Brasil
A Espanha começa 2022 com nova legislação laboral, que revoga os efeitos nocivos da Reforma Trabalhista de 2012.
A mudança faz parte de negociação que envolveu empresas, sindicatos e partidos que compõem a coalização que dá suporte ao PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de extração social-democrata.
Depois de aprovado pelo conselho de ministros no dia 28/12, o projeto foi convertido em “real decreto-lei” — espécie de medida provisória —, que coloca as regras em vigor até que sejam ratificadas pelo Legislativo.
Essa nova Reforma Trabalhista na Espanha, agora com objetivo de resgatar direitos, é parte do acordo entre o partido do governo e o Podemos, partido mais à esquerda.
O acordo ajudou a formar a maioria necessária ao PSOE para indicar o primeiro-ministro Pedro Sánchez, após a eleição de abril de 2019.
A Reforma Trabalhista da Espanha de uma década atrás foi uma das “inspiradoras” da “reforma” feita no Brasil em 2017, sob o governo de Michel Temer (MDB).
Lei fracassada
Lá como aqui, o pretexto de baratear as contratações para se criarem mais empregos fracassou.
Isso porque, a principal consequência foi a precarização do trabalho e a criação de vagas mal remuneradas, com menos direitos e condições ruins de trabalho.
Uma década depois, a Espanha volta atrás. O decreto de 30 de dezembro atende ainda a compromisso do primeiro-ministro Pedro Sánchez com a Comissão Europeia, para garantir a próxima parcela de fundos da União Europeia.
Atualmente, o país conta com taxa de desemprego de 14,5%, uma das mais altas do bloco econômico — União Europeia.
Trabalho temporário e terceirizações
O principal objetivo da nova reforma espanhola é acabar com abuso de contratações temporárias, que hoje responde por mais de 1/4 das ocupações no país.
A ideia é estimular a contratação por prazo indeterminado, que dão mais segurança aos trabalhadores e, portanto, à economia.
Além disso, a nova regra extingue a chamada contratação “por obra ou serviço”, equivalente ao “trabalho intermitente” da reforma de Temer.
Os prazos de contratações temporárias passam a ser limitados a 6 meses, podendo chegar a 1 ano, caso haja autorização em negociação coletiva.
Em situações temporalmente previstas — como datas festivas ou atividades agrícolas — o período máximo é de 90 dias.
Outro aspecto importante da nova lei é o de tentar coibir as terceirizações. Com isso, trabalhadores contratados por meio de empresas de terceirização terão obrigatoriamente de receber salários iguais aos dos empregados diretos.
Por exemplo, no setor financeiro, um terceirizado deverá receber conforme a convenção coletiva firmada entre bancos e os sindicatos de bancários.
O decreto-lei proíbe ainda demissões de funcionários por motivos econômicos e institui de forma permanente o Expediente de Regulação do Trabalho Temporário.
A medida foi criada durante a pandemia para evitar que trabalhadores percam o salário e o emprego devido à suspensão da atividade nas empresas.
Negociações coletivas
A reforma espanhola pretende reequilibrar os parâmetros de negociação coletiva, revogando a limitação de ultratividade — a perda de vigência de acordo coletivo quando expira o prazo de validade.
A medida dificultava as negociações entre empresas e sindicatos. E agora, então, o novo texto estende a vigência dos acordos coletivos, até a conclusão de nova negociação.
Por outro lado, há extensão de regras então criadas para auxiliar empresas afetadas pela covid-19. Em situações críticas, causadas por crises macroeconômicas, se permitirá redução de obrigações previdenciárias.
Também poderão se socorrer de mecanismos de flexibilização, com facilitações de folgas compensatórias.
Fonte: Diap
Federação dos Bancários do Paraná